Pouca gente seria capaz de fazer como Susana Trimarco, uma mulher argentina que é este ano candidata ao Prémio Nobel da Paz.
Em 2002, a sua filha Maria de Los Angeles (‘Marita’) desapareceu. Tinha 23 anos, e uma filha pequena. Susana e o marido, desesperados, procuraram-na por todo o lado, e começaram a dar entrevistas.
Após uma na rádio, alguém os contactou para dizer que tinha visto Marita – num bordel. Trimarco chamou a polícia, mas quando lá chegaram a filha já não estava. Segundo parece, alguém tinha avisado os proxenetas.
Foi aí que Trimarco começou a perceber a teia de cumplicidades entre os que fazem tráfico de mulheres – os que raptam jovens como Marita e as forçam a prostituir-se – e aqueles que são supostos impedi-lo.
Falando com algumas das mulheres no bordel, começou a ter ideia de uma rede. Mas para entrar lá dentro, não podia confiar em ninguém.
Tinha de ser ela própria. Assim fez. Vestiu-se como uma madame, treinou-se para usar linguagem a condizer, e começou a visitar os mercados de carne humana de que foi tendo conhecimento.
Num deles, viu o que descreve assim: “O prostíbulo era o lugar onde as mostravam. Cada uma tinha o seu preço. Todas tinham cara de horror. Havia até menores de 14 anos. Quando as via, baixavam a cabeça e cobriam o corpo vestido com pouca roupa. O corpo delas mostrava o terror e a dor que sofriam. Não sou psicóloga, mas percebia-se o medo”.
Desse medo, com o tempo, ela foi conseguindo libertar mais de 400. Há anos, criou uma fundação com o nome da filha para esse fim. Uma fundação tanto mais necessária quanto a Argentina é um dos países pior classificados em relação ao assunto em causa.
Trimarco tornou-se uma celebridade, e foi muitas vezes ameaçada de morte — chegaram a atacar-lhe a casa, e a saúde do marido ficou completamente arruinada. Mas Trimarco não desiste.
Já fez bem a muita gente, mas ainda falta encontrar Marita, ou saber o que lhe aconteceu. Conforme ela diz, se eu não tenho descanso eles também não hão-de ter. E a prova disso é o julgamento de 13 homens acusados pelo desaparecimento de Marita, que neste momento já decorre. Entre os acusados contam-se vários polícias.
Fonte: Expresso