Chama-se Ricardo mas profissionalmente é como Luna que sobe ao palco e personifica cantoras famosas.
Tal como já aconteceu com tantas outras pessoas com esta atividade, em Setembro de 2013, Ricardo foi abordado, espancado, assaltado e esfaqueado por 3 menores em Lisboa, no jardim de Algés e por pouco não sobrevivia.
Os responsáveis foram identificados e o julgamento começou esta semana. Ricardo conta na primeira pessoa o que sentiu.
É sensação agridoce. Sinto um misto de revolta com serenidade e paz de espirito. Como é sabido a 12 de Setembro de 2013 fui abordado no jardim de Algés por 3 jovens menores que me assaltaram , espancaram , ofenderam e esfaquearam. A recuperação foi rápida apesar da gravidade da situação e de até hoje toda a equipa hospitalar se perguntar como estou vivo!
A semana passada foi o 1º julgamento (dos menores de 15 e 16 anos) , hoje foi o do «adulto» (17anos). Não vos consigo descrever o horror que é enfrentar de novo as suas caras , ouvir as suas vozes e ter de partilhar o mesmo espaço que eles.
Após o incidente seguiu-se uma queixa na PSP de Miraflores onde assinei tudo e mais alguma coisa e no fim ainda questionei se seria preciso fazer uma queixa em nome pessoal e um pedido de indeminização. Foi-me respondido que não era preciso fazer rigorosamente nada.
Após os julgamentos terem começado , realmente estranhei o facto de nunca ter sido contactado por ninguém. Hoje, no inicio do julgamento descobri que afinal não tinha advogado nenhum, que a queixa havia seguido somente por parte do Ministério Público (portante eu seria considerado só assistente de processo ou testemunha) e que não havia nenhum pedido de indeminização. Fiquei em estado de choque!
Contudo soube que lhes poderá acontecer: os menores podem ficar numa instituição durante 18 meses e o «adulto» levar pena de prisão até 3 anos.
No fim de tudo falei com os advogados dos miúdos e respetivas famílias: todos me vieram pedir desculpas e dizer que se sentiam envergonhados.
E é aqui que estranho a minha reação. Durante muito tempo apregoei que queria justiça e vê-los presos a pagarem por tudo até o pior lhes desejei; hoje no fim de tudo apenas quis falar com eles e perguntar “porquê?” e, se possível, acreditem, ajudá-los a tornarem-se adultos com valores Humanos.
Foi isto que senti , e senti-me bem.
R E S P E C T
Henrique Ribeiro: “Concordo com tudo, menos com a parte do perdão. Esses cachopos precisam de ser postos no sítio… e não é com falinhas mansas que lá vão. Será que quem pratica o mal consegue ver a mensagem?”
AINANAS: Também não concordo que seja perdoável mas por isso mesmo respeito a capacidade que o Ricardo teve de perdoar, não é para qualquer um. Provavelmente, por ódio, nao teria uma postura tão nobre e queria mesmo era que fossem todos condenados e recebessem o mesmo tratamento na prisão.
Isto apesar de acreditar que ninguém é mau, nem bom, por natureza e que é o ambiente à nossa volta, as pessoas com quem nos damos e as experiências que vivemos que nos transformam naquilo que somos.
A verdade é que talvez se esses miudos tivessem tido uma educação diferente nada disto acontecesse; talvez se alguém se empenhar em fazer deles pessoas melhores possam vir a ser mais uteis para a sociedade do que simplesmente se os pusermos na prisão uns tempos a conviver com outros criminosos para ficarem ainda mais especialistas em fazer merda.