O consumo de cannabis de alta potência e numa frequência diária aumenta até seis vezes o risco de doença psicótica, como a esquizofrenia, conclui um artigo científico publicado ontem no British Journal of Psychiatry.
Tiago Reis Marques, médico psiquiatra dos Hospitais da Universidade de Coimbra, é um dos autores do estudo e sublinhou que, embora a cannabis não seja uma “causa em si” para esse tipo de distúrbios, é um factor de risco e um precipitante de doenças mentais graves.
“Em pessoas que, com outros factores de risco associados, como genéticos ou sociais, estejam em risco aumentado, [o consumo] é um factor precipitante para a esquizofrenia”, referiu o português que se encontra a fazer doutoramento em Londres.
O investigador de 33 anos explicou que, actualmente, a cannabis geneticamente modificada, preferida pelos consumidores e originária da Holanda e de outros países, “tem de 12 a 18 por cento de THC, substância que provoca os vulgares sintomas, como euforia, desinibição, a vulgar ‘moca’, quando antes continha entre dois e quatro por cento”.
As implicações do consumo para a sociedade levam Tiago Reis Marques a considerar que a cannabis não deve ser vista apenas “como uma droga somente leve, mas que potencia e aumenta o risco de doença mental grave”.
Ressalvando que tal decisão se situa no nível político, o investigador antevê uma “implicação muito importante na agenda de saúde pública, assim como na forma como a política, criminal e legislativa, terá de olhar para a cannabis”.
O passo seguinte da equipa que Tiago Reis Marques integra será continuar a perceber como é que a cannabis actua no cérebro para que surjam sintomas psicóticos (delírios, paranóia, alucinações, sintomas de perseguição) e como é que a droga se combina com factores genéticos, por exemplo.
Tnks: Ciencia Hoje