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AMOR: O que acontece quando nos apaixonamos?
AMOR: O que acontece quando nos apaixonamos?

O AMOR é um dos motores mais poderosos dos seres humanos, gerou milhares de palavras e músicas e ainda assim continua a ser um dos grandes mistérios.

É um dos motores mais poderosos dos seres humanos, gerou milhares de palavras para o tentar descrever e continua a ser um dos grandes mistérios.

Recentemente, vários estudos têm tentado explicar o que acontece, não ao coração mas ao cérebro, quando nos apaixonamos por alguém.

Amor: o que raio é isso!?

O amor é um pensamento intrusivo:
alguém acampou na nossa cabeça

E o que se passa é isto:

“Um grupo de neurónios localizados no mesencéfalo começa a produzir dopamina que se espalha a muitas partes do cérebro e nos dá aquela focalização, energia, possessividade, desejo, obsessão e motivação para ir ter com a pessoa. A primeira coisa que acontece é que a outra pessoa passa a ser especial – tudo nela passa a ser especial. Depois começamos a focar-nos nas coisas de que gostamos na pessoa, ficamos em êxtase quando as coisas correm bem e desesperados quando correm mal, ganhamos imensa energia, tornamo-nos muito possessivos sexualmente, sentimos dependência emocional e física. Mas o que queremos mesmo é a união emocional. E acontece aquilo a que chamo de pensamento intrusivo: não conseguimos deixar de pensar na pessoa, alguém está acampado na nossa cabeça. – Helen Fisher”

Helen Fisher é Antropóloga e autora de vários livros e estudos sobre o amor como Anatomia do Amor (Círculo de Leitores) ou Porque Amamos (Relógio d”Água) e consultora de vários sites de encontros amorosos.

Não interessa se aconteceu no segundo em que conhecemos a pessoa – o “amor à primeira vista” –, se meses depois, defende Fisher, que compara, neste aspecto, o sistema do amor ao sistema do medo, por exemplo: podemos ficar com medo de alguma coisa instantaneamente ou meses depois de ter tido contacto com essa coisa.

“Deixe-me contar-lhe uma coisa: fomos à China saber o que acontecia quando as pessoas se apaixonavam e encontrámos respostas iguais às dos americanos.”

 

O cérebro pensa, as emoções e sentimentos estão activos, mas há mais qualquer coisa que acontece, por isso o amor é um motor poderoso. “No cérebro há o córtex cerebral – com que se pensa – e por baixo o sistema límbico – ligado às emoções (medo, raiva, surpresa, nojo). Muito mais abaixo, estão as regiões ligadas à motivação, à focalização, à obsessão, à energia – o amor romântico activa estas regiões. O que eu e você temos em comum é que, se se apaixonar, vai desejar tanto estar com o seu parceiro como eu com o meu.”

A descrição enfática do amor romântico feita por Fisher corresponde àquilo que associamos a alguém que está “loucamente apaixonado”. Em inglês, a expressão usada para “apaixonar”, traduzida à letra, aponta para uma queda – “fall in love”. Mas tão misterioso como “cair no amor”, é “sair do amor” – “fall out of love”.

Sobre o que acontece ao cérebro quando esse sistema se “apaga” ainda menos se sabe – Helen Fisher desconfia de que está associado à capacidade de ilusão que o amor provoca, ou seja, por alguma razão se usa também a expressão “ver o outro com lentes cor-de-rosa”. “Ninguém sabe o que acontece ao cérebro quando as pessoas deixam de estar apaixonadas. Mas deixe-me contar-lhe uma coisa: fomos à China fazer uma experiência sobre o que acontecia quando as pessoas se apaixonavam e encontrámos respostas iguais às dos americanos. Três anos e meio depois voltámos e perguntámos às mesmas pessoas se ainda estavam apaixonadas: 50% disseram que sim, 50% disseram que não. Fomos às ressonâncias magnéticas originais para ver se havia alguma diferença em relação aos que continuavam apaixonados e aos que já não estavam. Encontrámos actividade numa zona do córtex pré-frontal, exactamente atrás da testa, entre os que ainda estavam apaixonados – e essa região está ligada à capacidade de suspender os aspectos negativos. Por isso se se continuar apaixonado está-se a fazer aquilo a que chamamos ilusões positivas, a ignorar o lado negativo do outro. De alguma maneira, as pessoas que deixam de estar apaixonadas passam a ser realistas, começam a ver todos os problemas e não têm a iniciativa de se focarem nos aspectos positivos.”

Vários estudos apontaram para aquilo que teoricamente faz duas pessoas atraírem-se e para os factores que explicam o clique com uma pessoa e não com outra: ter o mesmo background e nível de educação, ter os mesmos valores sociais ou religiosos, o mesmo nível de inteligência e de capacidade de atracção física, as duas pessoas estarem próximas geograficamente e no mesmo “timing”.

Há controvérsia, porém, sobre o papel da personalidade – se são os similares ou os opostos que se atraem ou nenhum deles.

“Há pessoas que estão dispostas a arriscar em várias áreas, ponto. Mas é interessante que até as pessoas mais cautelosas arriscam mais quando estão apaixonadas.”

Traços hereditários
Fisher centrou-se naquilo que se designa por traços temperamentais de personalidade, hereditários, “relativamente estáveis durante a vida e ligados a determinados genes, hormonas e sistemas neurotransmissores”.

Chegou a quatro tipos:

  • o explorador – associado ao sistema da dopamina e ao desejo de novidade, de experiência, de aventura, à impulsividade, à energia, ao entusiasmo;
  • o construtor – associado ao sistema da serotonina e à sociabilidade, precaução, cumprimento de regras, ordem, planeamento, precisão;
  • o director – associado à testosterona e à capacidade visual e espacial, a menos socialização e a fluência verbal, à autoconfiança e à assertividade;
  • o negociador – associado ao estrogénio e à oxitocina e ao pensamento a longo prazo, à cooperação, a capacidades linguísticas, à agradabilidade, à empatia.

A atracção destes quatro tipos acontece assim, segundo a análise de Fisher: os exploradores e os construtores, mais parecidos, tendem a atrair os mesmos tipos; os directores e os negociadores – “opostos” – atraem-se. Uma das coisas que a antropóloga diz que acontecem quando estamos apaixonados é que ficamos mais dispostos a arriscar. A sedução é diferente consoante as pessoas, claro, e acredito que entre os quatro tipos – o construtor, o negociador, o explorador e o director – o explorador vai arriscar mais.”

Há quem diga que racionalizar o amor desmistifica e apaga o mistério que o alimenta. Fisher defende, porém, que quanto mais soubermos sobre factores como a personalidade, “melhores relações teremos”. “O conhecimento é poder. Às vezes levamos as coisas de forma demasiado pessoal. Se soubermos que a pessoa com quem estamos é teimosa porque é assim biologicamente e que isso não tem que ver connosco mas com a forma como é, entendemo-la melhor. Por outro lado, durante anos as pessoas não sabiam nada sobre o amor e apaixonavam-se na mesma!”

A informação é crucial em casos como os efeitos dos medicamentos contra a depressão no desejo sexual e nas emoções.

“Fiz um estudo sobre antidepressivos, que interferem com a serotonina, diminuem o desejo sexual mas também põem em risco sentimentos de amor romântico, de ligação, porque quando se aumenta a serotonina está-se a suprimir o sistema da dopamina e a dopamina está ligada a sentimentos de amor romântico. Isto é informação sobre o amor romântico que as pessoas podem usar – quanto mais soubermos sobre o amor, mais poderemos evitar os problemas e ter o tipo de relação que queremos.”

Se nos põe em êxtase, o amor romântico também é capaz de despertar o pior das pessoas, porque “é o motor humano básico e um dos mais poderosos”, explica Fisher. Ao ponto de gerar outra emoção igualmente forte, ódio. Fisher já disse que não se sabe o que acontece ao cérebro quando deixamos de amar alguém, mas sabe-se que os sentimentos de ódio e amor se tocam – daí gerarem os crimes passionais, alguns de uma violência inimaginável.

AINANAS:Encontrámos um artigo denso mas muito interessante no Jornal Público sobre O QUE ACONTECE quando nos apaixonamos. Por achar que valia a pena partilhar decidimos adaptar o texto, dando-lhe nova estrutura, cortando a palha e destacando o essencial. Foi assim que nasceu este post.


Categoria/s: Ciência,Curiosidades