Enviado por: Tiago Vieira
A cena passou-se em São João da Madeira e só de lermos o relato da Patrícia Silva já nos sentimos agoniados, nem precisávamos de ver as fotos.
A merda de pessoa que arrastou um cão por mais de 1Km debaixo do carro e nem parou, a merda de pessoas que se desviaram do animal, gravemente ferido, passando-lhe ao lado como se fosse um bocado de lixo na estrada e seguindo o seu caminho. A incompetência de todos, a inércia de muitos, tudo ser um negócio. Tudo nesta história custa a ler, mas mostra o longo caminho que ainda temos pela frente.
O relato da Patrícia
Estou exausta. Mas não consigo dormir com tanta revolta cá dentro. (E peço desculpa se vou ferir a susceptibilidade de alguém com estas fotografias, mas tinha mesmo de as partilhar… vêem-se coisas bem piores por aí e ninguém se queixa).
Depois de um longo dia de trabalho e mais de 300 km, já a chegar a São João da Madeira, começo a ver os carros a encostarem à berma para contornar algo… “qualquer coisa no meio da estrada” penso eu.
O que estava no meio da estrada era uma cadela, pastor alemão, que tinha sido atropelada e se estava a tentar arrastar… precisamente no meio da estrada.
Parei, claro. Se me contassem isto pensava logo que qualquer pessoa faria o mesmo. Mas não, a fila na nacional prolongava-se desde a Feira e ninguém tinha parado. NINGUÉM. Nem mesmo o otário do animal que arrastou a cadela mais de 1km debaixo do carro e a deixou neste estado.
Passámos a ser duas no meio da estrada e, sinceramente, não sabia o que fazer. A pobre estava a agonizar em dores, toda desfeita por dentro, e eu ali no meio… sozinha a continuar a ver TODOS os carros contornarem o que agora eram dois “obstáculos” no caminho.
Estava eu a falar com a GNR quando um carro de patrulha aparece por milagre. Pouco depois, pára um conhecido meu com experiência veterinária para tentar ajudar. Mais um carro: desta vez, uma testemunha que viu a cadela sair de baixo do carro do otário do animal que a atropelou e foi atrás do condutor a buzinar mas, mais uma vez provou ser um grande cabrão, e não parou. Não importa, o veículo está identificado e espero bem que se apliquem as novas leis de proteção de animais lançadas há tão pouco tempo! Outro carro: uma pessoa que, como eu, não conseguiu ficar indiferente a esta cena medonha.
O sofrimento daquele bicho era atroz e tive de chamar um veterinário privado para o abater. “Menina, a deslocação são 20€ e o abate 50€”… Que seja. Mais de uma hora depois a cadela consegue, finalmente, descansar…
“Se a levarmos para cremação tem um custo”… dizia-me a veterinária que acabou por me descontar o valor da deslocação.
Os agentes da GNR, que também não estavam a achar piada à situação, decidiram chamar a Proteção Civil para recolher o animal.
Conclusão:
Duas horas depois o veterinário do canil municipal da Feira não apareceu nem sequer se dignou a dar uma justificação. Não o conheço mas, a opinião com que fico, é que merece pouco vestir a camisola da profissão que adoptou.
Sei que isto nunca dará em nada.
A cadela tinha coleira mas não tinha chip. O CHIP IDENTIFICADOR É OBRIGATÓRIO POR LEI, quando é que as pessoas vão perceber isso? … Como tal, não sabemos quem é o dono. Se alguém souber de algo avise por favor.
O desfecho da história? Triste.
É claro que me custou imenso ver o animal a agonizar e a morrer… mas, para mim, o que mais me revolta e mói cá dentro, é saber que ainda há quem cometa este tipo de crimes e nem se digne a parar. E ver carros e carros a contornar o obstáculo… como se de um ramo de árvore se tratasse.
Já dizia Mahatma Gandhi que “a grandeza de uma nação é julgada pelo modo como os animais são tratados”… Que pequeninos somos… até dá dó.