Publicar um artigo numa revista como a “Biology Letters”, da Royal Society, uma das associações científicas mais tradicionais do mundo, nem sempre está ao alcance de qualquer investigador, dado as características e qualidade exigidas. Para surpresa de toda a gente, um grupo de crianças entre os oito e os dez anos, de uma escola primária em Devon, na Inglaterra, conseguiu fazê-lo, publicando uma investigação em que se descobriu que as abelhas podem ser treinadas para reconhecer cores na procura de alimento.
Estes jovens “investigadores” tiveram a consultoria do neurocientista Beau Lotto, da University College London. Contudo, este garantiu que o trabalho foi “inteiramente concebido e escrito” pelas crianças.
Depois de se proporem a descobrir se as abelhas poderiam aprender a usar padrões de cores para encontrarem o caminho até às flores mais doces e nutritivas, os alunos testaram-nas e, de acordo com o estudo, verificaram que estes insectos “podem usar as combinações de cores para orientar-se no espaço ao decidir qual é a cor da flor para onde irão”. Além disso, constataram que “a ciência é divertida, porque se pode fazer coisas que ninguém antes fez “.
A Royal Society valorizou este trabalho na medida em que faltava compreensão sobre o objecto de estudo das crianças, pelo que as descobertas são um “verdadeiro avanço” neste campo.
Segundo o editor da “Biology Letters”, Brian Charlesworth, este é o primeiro caso, a nível mundial, em que crianças publicam numa revista científica. “Espero que isso inspire outros grupos a perceber que a ciência não é um clube fechado, mas algo que está disponível para todos”, sublinhou.
Este projecto surgiu depois de uma palestra sobre o ensino da ciência dada por Beau Lotto na escola Blackawton, onde o seu filho estuda. A partir daí, o neurocientista e o director Dave Strudwick ajudaram as crianças a desenvolver as experiências.
Tabelas foram desenhadas a lápis de cor
“O verdadeiro trabalho científico é repleto de incertezas, sendo por isso tão excitante. É isto que falta na educação, onde os assuntos são apresentados como uma série de certezas aborrecidas”, disse Lotto.
O trabalho foi editado pelo cientista, mas manteve os textos das crianças sobre o tema. Até mesmo as tabelas, pintadas com lápis de cor, foram mantidas na publicação. Para ser aceite na “Biology Letters”, o artigo teve que ser comentado por dois investigadores especialistas no tema, visto que o texto não tinha referências bibliográficas.
Laurence Mahoney, da Universidade de Nova York, e Natalie Hempel de Ibarra, da Universidade de Exeter, observaram que as experiências foram “modestas, mas inteligente e correctamente organizadas, além de conduzidas de forma controlada”.