Há 13 anos que Cecil era uma celebridade. Atingido por um arco e flechas, foi perseguido, ferido, durante dois dias, até ser finalmente abatido a tiro. Depois, arrancaram-lhe a pele e a cabeça.
Há 13 anos que Cecil, um leão de juba negra, era uma celebridade entre locais e participantes de safaris na região de Hwange, no Oeste do Zimbabwe. De resto, era muito provavelmente o mais conhecido leão do país. Com um temperamento descontraído, era o alvo perfeito para as objetivas das câmaras fotográficas dos turistas estrangeiros que visitavam o Parque Natural de Hwange e, por isso, contribuia bastante para a economia de um dos países mais pobres do planeta.
Mas um caçador desportivo tirou-lhe muito mais do que uma fotografia. Atingido por um arco e flechas, o grande leão foi perseguido, ferido, durante dois dias, até ser finalmente abatido a tiro. Depois, arrancaram-lhe a pele e a cabeça para serem guardados como troféus.
A morte de Cecil aconteceu numa caçada organizada por uma entidade autorizada: a Associação de Caçadores e Guias Profissionais do Zimbabwe (ZPHGA). Mas persistem muitas dúvidas sobre a legalidade das circunstâncias em que o animal foi sinalizado e depois perseguido e abatido.
A ZPGHA emitiu, no passado dia 14, um comunicado em que garantia que Cecil tinha sido morto “fora [do Parque Nacional de Hwange], em terra privada, num safari”. Mas esta versão dos factos não explica como o leão – que alegadamente teria uma coleira de identificação quando foi morto – foi considerado um alvo aceitável pelos caçadores.
A ZPGHA, que de acordo com alguns órgãos de comunicação social já confirmou que o caçador será um membro da associação, de nacionalidade espanhola – anunciou na altura a abertura de um inquérito: “Estamos a aguardar toda a documentação relevante para verificação”, anunciou na altura. Desde então tem optado pelo silêncio.
A tese da associação de caçadores – cuja página da internet tem em título a frase: “A ética é tudo” – é que a caçada é legal, visto o animal estar fora da zona de reserva. Mas uma organização de conservação acusou os caçadores de deliberadamente terem atraído o leão – que teria um GPS para sinalizar os seus movimentos – para fora do parque, utilizando a carcaça de um animal morto. Há ainda quem afirme que naquela região, em terreno público ou privado, não estavam previstas quaisquer quotas para o abate de leões.
De acordo com estimativas não oficiais, a “caçada” de Cecil terá rendido até 50 mil euros à ZPHGA, que promove estes safaris apenas para os seus membros, que vêm de vários pontos do mundo.
Cecil – que era frequentemente avistado na companhia de outro macho, chamado Jericho – dominava sobre uma área importante do parque natural, sendo o pai de várias crias ali nascidas.
As caçadas legais aos chamados “cinco grandes” mamíferos selvagens africanos – leões, elefantes, rinocerontes, búfalos e leopardos – são uma realidade em vários países africanos, sendo reguladas por legislação e quotas definidas pelas Nações Unidas.
Os seus defensores dizem que a caça controlada não põe em risco a subsistência das espécies e que muitos dos seus proveitos são canalizados para esforços de conservação. Mas além das questões éticas associadas, a debilidade económica de alguns países torna mais difícil garantir que a lei é aplicada.