Passamos o dia a ouvir “os mesmos” falar sobre o COVID-19. Médicos, políticos, responsáveis internacionais.. todos com o discurso muito estudado, a mensagem muito ponderada.
Mas também fará falta ouvir quem está no terreno e a viver na pele a possibilidade de ser infectado a qualquer momento.
Nomeadamente os motoristas internacionais, começam a temer fazer rotas para zonas onde o virus está mais descontrolado, como Itália. No entanto dizem-lhes para continuar o serviço como se não fosse nada, porque as cargas têm de ser entregues.
Este motorista conta mesmo a história de alguns colegas seus mais burros que estão a aparvalhar e desvalorizar a situação.
Um motorista vindo de Itália chegou mesmo a “bufar” para cima das pessoas à sua volta no restaurante, ironizando que as estava a contagiar com o COVID-19. Uma brincadeira engraçada, não?
Mais consciente da responsabilidade, este outro motorista imagina como seria devastador para si ser o responsável por infectar a mãe, a mulher, ou os filhos com este vírus, podendo mesmo ser responsável pela morte de algum deles. É algo de que dificilmente se recupera.
Mandar parar todos os motoristas internacionais podia ser catastrófico a nível económico e de ordem social, basta ver o que aconteceu quando os das matérias perigosas pararam um bocado por causa da greve.
Mas mandá-los simplesmente seguir viagem e não fazer qualquer tipo de acompanhamento também não é algo que deva ser feito de ânimo leve.
O risco de um motorista ser contagiado é obviamente menor do que alguém que viaje de comboio, barco ou avião.. uma vez que vai sozinho no seu veículo e tem uma interação social muito mais reduzida… mas por outro lado o risco também aumenta por eles estarem constantemente a fazer viagens para lá e para cá, multiplicando as oportunidades de contágio.
É ridículo estarmos a parar escolas, ter jogos à porta fechada, fechar museus e faculdades.. mas depois continuarmos a deixar gente ir e vir de zonas contaminadas sem qualquer controlo.
Estamos a viver a crise de uma vida e está apenas no começo. Já vivemos algumas nos últimos 20 anos, nomeadamente o pós 11 de Setembro de 2001 e a crise do subprime de 2008… mas isto parece-me ser de longe pior e acredito que irá ter consequências profundas na vida de muita gente, não só pelos efeitos da doença em si, mas também e principalmente pelos prejuízos e desordem social que tudo isto vai causar.
Eventos cancelados, despedimentos, incumprimentos, gente a perder a casa, empresas a falir, bancos em dificuldades, nós a pagar… é uma bola de neve que já vimos antes e não queríamos rever tão cedo. Bem, mas já me estou a alongar demais.
Aqui fica o testemunho do Neca Vandalho: