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Reprogramar células foi avanço do Ano

A capacidade de reprogramar células, como se fossem computadores, para que elas se comportem de forma mais útil para os cientistas foi eleita pela revista científica americana “Science” como o principal avanço científico do ano de 2008.

Foto: Kit Rodolfa e John Dimos/Universidade Harvard

Neurónios motores com esclerose lateral amiotrófica produzidos por reprogramação celular (Foto: Kit Rodolfa e John Dimos/Universidade Harvard)

De fato, não é pouca coisa. A revolução começou, na verdade, ao final do ano passado, quando cientistas japoneses conseguiram reprogramar células humanas de pele para que elas se comportassem como células-tronco embrionárias — um feito que, em tese, poderia eliminar as barreiras éticas que até então atrapalhavam, em muitos países, pesquisas desse tipo.

“Em tese” porque ainda era preciso provar que essas células reprogramadas podiam mesmo fazer as vezes das que são extraídas de embriões. E foi isso que os cientistas conseguiram começar a demonstrar em 2008.

Do avanço com as pesquisas emergiram os primeiros modelos de doença em laboratório — células especialmente reprogramadas para simular como certas enfermidades se comportam.

Durante 2008, um grupo de cientistas conseguiu transformar células de pele em neurônios e células gliais que sofriam com esclerose lateral amiotrófica. Uma semana depois, outro grupo produziu células com dez doenças diferentes (entre elas, distrofia muscular, diabetes tipo 1 e síndrome de Down).

A expectativa é a de que no ano que vem essas células possam formar modelos mais complexos, que ajudarão a produzir novos tratamentos contra essas doenças devastadoras e hoje incuráveis.

Mas a “Science” destaca que ainda há barreiras a serem transpostas para que essas células reprogramadas atinjam um status em que será seguro usá-las em tratamentos. Hoje, o método mais eficaz para produzi-las envolve o uso de um vírus, o que poderia ameaçar o paciente que as recebesse de contaminação.

Além disso, há o fato de que os cientistas não sabem basicamente como a inserção desses poucos genes por meio de um vírus operam a “alquimia” de transformar um tipo de células em outro. Por isso, diante do conhecimento, não há garantias de que essas células possam reverter a seu estado original e causar danos — ou mesmo um tumor — em vez de curar definitivamente o problema.

Muito trabalho pela frente, portanto, para que as células reprogramadas deixem de ser o “avanço do ano” da “Science” e passem a ser esperança real para pacientes.

Os outros concorrentes

A revista científica tem por hábito elencar outros nove avanços que concorreram com o vencedor durante o ano. Confira os eleitos.

– Imagens de planetas extra-solares: pela primeira vez, astrônomos conseguiram obter imagens indiscutíveis do que seriam planetas girando ao redor de outras estrelas, que não o Sol.

– Genes do câncer: grandes avanços foram feitos na decifração de genes ativos em células cancerosas de vários tipos, entre eles o pancreático e o glioblastoma — dois dos mais mortais.

– Super-supercondutores: Em 2008, cientistas conseguiram descobrir uma segunda família de supercondutores de alta temperatura — estruturas que permitem a passagem de eletricidade sem resistência.

– Espionagem celular: Bioquímicos tropeçaram em grandes surpresas ao conseguir observar, em detalhes, como as proteínas se encaixam a seus alvos — no famoso esquema chave-fechadura que costumamos aprender na escola.

– Energia renovável: Cientistas inventaram em 2008 um catalisador de cobalto-fósforo que ajuda a produção de hidrogênio combustível a partir de água. Seria uma forma inteligente de armazenar energia que não é produzida por fontes limpas e não é imediatamente usada.

– Embrião em evolução: Pesquisadores conseguiram monitorar a progressão de cerca de 16 mil células num embrião do peixe paulistinha, após um dia de desenvolvimento.

– Gordura vira músculo: Um estudo demonstrou que a chamada gordura marrom, definida como “boa” por ajudar a produzir calor para o corpo, pode ser transformada em músculo, e vice-versa.

– Vitória do Modelo Padrão: físicos conseguiram pela primeira vez realizar os difíceis cálculos e demonstrar que a teoria que descreve a maioria das partículas e interações que ocorre no universo é capaz de predizer quanta massa os prótons e nêutrons devem ter.

– Genomas para todo lado: Várias pesquisas demonstraram os avanços da genômica em 2008. Desde o genoma completo de um câncer até uma porção significativa do genoma do mamute, grandes avanços demonstraram que é possível baratear significativamente o custo da leitura de DNA.


Categoria/s: Ciência