A discrição de João Sousa terminou este domingo por completo, com a vitória no torneio de Kuala Lumpur a catapultá-lo para a ribalta do desporto português como primeiro tenista de sempre a vencer um torneio ATP.
João Sousa é um jovem discreto. Observa, repara nos pormenores, fala pouco, a menos que o assunto seja futebol — se não fosse tenista, gostava de ter sido futebolista – ou o seu estatuto de vimaranense.
O orgulho de ter nascido em Guimarães é mais do que óbvio e não foi atenuado pela escolha refletida de trocar a sua cidade por Barcelona, onde vive há vários anos.
Foi aos 15 anos, oito depois de ter começado a jogar ténis por influência do pai Armando, que deixou para trás a família e perseguir o sonho de seguir os passos de tenistas como Juan Carlos Ferrero, Pete Sampras ou Roger Federer.
Habitual no “top-100” desde 2012, tem feito um percurso constante, só perturbado por uma lesão no pé, contraída num treino da Taça Davis, que o afastou do Portugal Open e o obrigou a aprender a jogar permanentemente com dores.
Líder não assumido da Seleção Nacional nos últimos meses, transfigura-se quando joga com as cores portuguesas, como aconteceu há umas semanas na Moldávia, onde travou (e perdeu) uma luta de quase cinco horas, com direito a muitos protestos contra a arbitragem.
Em jeito de confidência, reconheceu que a vitória poderia ter sido sua se tivesse jogado como fez no Open dos Estados Unidos, onde perdeu na terceira ronda com o número um mundial, o sérvio Novak Djokovic, depois de dois triunfos que foram os primeiros indícios do caminho que haveria de percorrer até aqui.
Esse ténis foi o que exibiu em Kuala Lumpur, ponto de maior êxito de um calendário imparável que o levou de Chisinau, na Moldávia, a São Petersburgo, na Rússia, torneio em que atingiu as meias-finais. Simpático, acessível, embora tímido, confiante q.b. e dono de uma grande direita e de muita garra, o tenista de 24 anos, que treina na BTT Academia em Barcelona e fala espanhol, catalão, inglês, francês e italiano, tem como principal lacuna a oscilação na concentração.
Esta segunda-feira, quando os rankings forem atualizados, pode muito bem tornar-se também no mais bem classificado português de sempre, ultrapassando o 59.º lugar alcançado por Rui Machado em outubro de 2011.
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