O escritor Domingos Amaral escreveu um pequeno manifesto contra a expressão “comer uma gaja”. Segundo ele, a expressão é imprecisa e animalesca.
Texto de Domingos Amaral
Se há expressão portuguesa que me intriga é: “ando a comer uma gaja”. É muito usada pelos homens portugueses, mas causa-me perplexidade pois dá-me sempre a sensação que a gaja que eles andam a comer é uma espécie de natureza morta, uma espécie de bife que se come ao almoço, ou perna de presunto a quem se vai cortando uma fatia quando dá vontade.
É como se a mulher – a gaja – não tivesse vida, fosse um ser passivo, um animal morto que se limitasse a ser comido sem mexer sequer uma pálpebra.
Quando um homem diz “ando a comer aquela gaja”, é claro que isso é dito com orgulho, soa a vitória épica, mas a expressão coloca toda a movimentação sexual na parte do homem, é ele o activo e ela não passa do elemento passivo.
É como se ele andasse a comer uma morta, e não um ser vivo, com capacidade para várias coisas, para ser comido mas obviamente também para comer.
Quando um homem “come uma gaja” ele está também e ao mesmo tempo “a ser comido por ela”, a refeição é mútua e não unilateral.
Não faz qualquer sentido tratar as mulheres que se acabou de comer como inertes e frios camarões a quem se chupou a cabeça, ou pastéis de nata cobertos de canela que se enfiaram pela goela abaixo.
É certo que há algo de animalesco no sexo, mas caramba neste caso os animais estão vivos e para grande felicidade e sorte nossa, também nos comem de volta!
Em certos casos, a mulher pode tratar-se de uma coelhinha, muito dada ao sexo, ou de uma cabrita que dá pinotes, ou mesmo de uma porquinha que faz de tudo com um sorriso nos lábios. Mas está sempre viva e não morta.
(ò Domingos, olha que… também há pessoal que curte necrofilia )
Portanto, os homens devem rapidamente substituir a expressão “ando a comer uma gaja” pela expressão “aquela gaja e eu andamo-nos a comer que nem uns desalmados”. É mais preciso, e também mais cavalheiresco.
Apesar de tudo o texto tá fixe e de certeza que…
comeste algumas gajas à pala dele!
Por outro lado, gostando-se ou não da linguagem e dos termos “COMER” e “SER COMIDA”, há uma explicação: numa relação heterosexual convencional o homem assume realmente a posição activa (come/penetra), e a mulher assume a posição passiva (é comida/é penetrada).
É daí que vem a utilização do termo, não é por um dos elementos da relação estar morto ou não se mexer.Mas vale a intenção!
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