E se nunca houve um Big Bang e o universo existiu num eterno “sempre” sem princípio nem fim? E se o tempo for uma ilusão do nosso cérebro e não existir passado nem futuro, mas um eterno “agora”? Mesmo quem acha que houve um Big Bang que deu inicio a tudo não consegue explicar a singularidade infinitamente densa que esteve na sua origem, nem o que havia antes dela.
São questões demasiado gigantescas, e provavelmente a resposta não fará sentido neste momento, com o conhecimento que existe. Mas é fascinante não pararmos de lançar hipóteses, de pensar sobre o assunto, e de tentar SEMPRE saber mais. É das poucas coisas realmente boas sobre o ser humano.
O Universo poderá nunca ter tido um início, e ter existido desde sempre, defende um novo modelo teórico que aplica fórmulas de correcção quântica que complementam a teoria de Einstein da Relatividade Geral.
É normalmente aceite como idade do Universo, tal como estimada pela Relatividade Geral, o valor de 13.8 mil milhões de anos.
E pensa-se que, no início do Universo, toda a matéria terá ocupado um único ponto infinitamente denso, a singularidade, que após um “Big Bang” explodiu e iniciou a sua expansão.
De acordo com a Teoria do Big Bang, esse instante é oficialmente o início do Universo.
Mas apesar de a singularidade do Big Bang emanar directamente da matemática da Relatividade Geral, alguns cientistas encontram-lhe um pequeno problema: essa matemática apenas explica o que se passa imediatamente a seguir ao Big Bang.
A teoria não explica o que se passa exactamente na singularidade – ou antes dela.
“A singularidade do Big Bang é o mais sério problema da Relatividade Geral, porque nesse ponto parece que as leis da física são suspensas”, explica ao Phys.org o físico teórico Ahmed Farag Ali, da Universidade de Benha, no Egipto.
Os físicos Ahmed Farag Ali (esq) e Saurya Das (dir)
Mas Farag Ali e o seu colega Saurya Das, investigador da Universidade de Lethbridge, em Alberta, no Canadá, defendem que a singularidade do Big Bang pode ser explicada por um novo modelo teórico, no qual o Universo não tem início – nem fim.
Não há princípio, nem fim, nem matéria negra – apenas o sempre
Os dois cientistas aplicaram o trabalho sobre trajectórias quânticas de David Bohm, físico dos anos 50, às equações quânticas de Amal Kumar Raychaudhuri, físico indiano dos anos 90, para obter uma derivação corrigida das equações de Friedmann, que descrevem a expansão e evolução do Universo, incluindo o Big Bang, no contexto da Relatividade Geral.
Embora não seja exactamente uma Teoria da Gravidade Quântica, o modelo proposto pelos dois cientistas, publicado na Science Direct, tem elementos quer da Teoria Quântica quer da Relatividade Geral.
As curvas da equação quântica de Raychaudhuri, corrigidas pelas trajectórias de Bohm, no modelo de Ahmed Farag Ali e Saurya Das
Segundo os cientistas, os modelos cosmológicos tradicionais são baseados em trajectórias quânticas geodésicas clássicas, que inevitavelmente se intersectam – no ponto da singularidade.
Mas as correcções quânticas introduzidas no novo modelo, baseadas nas trajectórias de Bohn, que nunca se intersectam, prevêem um Universo sem singularidade, com massa constante, radiação constante e tamanho finito – logo, com uma idade infinita.
Segundo Ali e Das, o seu modelo dispensa a ideia de que o Universo está cheio de “matéria negra”. Em termos físicos, o modelo descreve o Universo como estando preenchido por um “fluído quântico” composto por gravitões – partículas hipotéticas, sem massa, que intermedeiam a força da gravidade.
Os investigadores planeiam agora aprofundar o estudo do seu modelo, que acreditam que “tem o potencial de resolver a singularidade do Big Bang, levando em conta tanto a matéria negra como a energia negra“.
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