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Geração À Rasca: Análise da Manifestação
Geração À Rasca: Análise da Manifestação

O Sérgio Rebelo fez um texto muito bom, que partilhou há momentos no Facebook , referindo algumas das coisas de que gostou/não gostou na manifestação, com opiniões bem fundamentadas.

O Sérgio Rebelo fez um texto muito bom, que partilhou há momentos no Facebook , referindo algumas das coisas de que gostou/não gostou na manifestação, com opiniões bem fundamentadas.

geração à rasca

Gostei

Pessoas na rua, lembrando-se de uma das conquistas mais importantes do 25 de Abril, a liberdade de se unirem e de se manifestarem; Agora falta lembrarem-se de outra tão ou mais importante, o direito ao voto.

Várias gerações juntas no protesto, mostrando que ao contrário do que era inicialmente proposto, este não é um problema de uma geração, mas sim de um país, de um sistema político e económico.

Políticos à rasca. Temia que os partidos não presentes no Governo fossem colar-se aos protestos desresponsabilizando-se pelos erros cometidos por si próprios ao longo dos anos quer na irresponsabilidade governativa, quer na passividade com que fizeram oposição e centrando-os na figura do Sócrates, à semelhança do que o Cavaco tentou fazer. Não conseguiram. Alguns tentaram, mas não conseguiram minar um protesto genuinamente popular e espontâneo. Nenhum partido sabe lidar com isto.

Manifestação pacífica e ordeira. Parece que os jovens, pelo menos com a ajuda dos pais, até sabem protestar de forma pacífica.

 

manifestação

Não gostei

Enrascados e perdidos. É impressionante ouvir casos de jovens que estão em estágios não remunerados há três anos. Isto mostra que eles estão completamente à nora e não percebem, não sabem que têm outras opções. Não percebem que se disserem “Não!” essas situações vão acabar. Não percebem que não têm de pagar pelo privilégio de trabalhar para uma grande marca. Não sabem que podem empreender, trabalhar como voluntários ou fazer uma busca mais activa por emprego e que os resultados vão ser muito melhores, bem como os seus currículos. Não percebem que também têm culpa do estado em que estamos ao comerem e calar.

Enrascados comodistas. As músicas dos Homens da Luta e dos Deolinda que são cantadas e populares nestes dias falam de uma geração que está à rasca mas também de uma que opta pelo conforto da casa dos pais e pela compra do carro em vez de se lançar na selva. É verdade que há muito deste comodismo, jovens que ganham os tais 500 euros e que se mantém em casa dos pais onde esses 500 euros são gastos apenas em extras proporcionando-lhes uma situação muito confortável. Portugal tem uma das mais altas taxas de carro próprio entre os jovens, o que é sintomático disso (além de também poder ser sintomático dos maus transportes públicos que temos). Esta geração é também fruto de uma geração de pais que sofreram muito para conquistar tudo o que conseguiram e que mimaram os seus filhos dando-lhes tudo a que nunca tiveram acesso. Estes jovens foram mal habituados e nunca tiveram de lutar por nada. Está na altura de abrirem os olhos e arregaçarem as mangas.

Desenrascados de palas nos olhos. Muitos jovens e menos jovens que estudaram, lutaram e empreenderam, muitos deles que até se deram bem, mostram uma total incapacidade de olhar para os seus pares menos empreendedores ou com menos sorte e de os perceber. Estes empreendedores não percebem que as pessoas não são todas empreendedoras nem se pode exigir isso delas. Não percebem que há realmente muitos enrascados nas gerações mais jovens e nas mais velhas. Não percebem que há uma questão de expectativas que foram criadas por todo um sistema e que há uma série de pessoas cujas expectativas eram diferentes das deles que agora se sentem defraudadas. E pior do que tudo isso, não percebem que esse sentimento e que a materialização desse sentimento numa manifestação é não só legítimo como saudável. Estes jovens empreendedores por um lado dão perspectivas positivas no que à produção económica diz respeito querendo produzir mais e melhor, mas deixam-me com medo do que nos espera em termos democráticos porque a democracia que eu quero é uma em que ouvimos todos de forma tolerante, aceitando a diferença e, para isso, é preciso ser capaz de olhar para além do nosso umbigo e para além do nosso mundinho pequenino onde nos deslocamos.

– Resignados e melindrados. Tenho lido muitos comentários de pessoas que trabalharam a recibos verdes, foram explorados, estagiaram sem remuneração e que hoje dizem “eu passei por isso tudo e estou aqui”, como se nos devêssemos contentar com pouco apenas porque eles o fizeram. É o mesmo sentimento que os Deolinda falam também na sua música quando dizem que há alguém muito pior na TV. São provavelmente esses os mesmos que fazem praxes absurdas quando estão na universidade porque eles próprios também as sofreram enquanto caloiros. São estes que ajudam a eternizar perversidades, baixas expectativas e resignação.

– Desfazamento da realidade. Muita gente continua a pedir emprego estável. Querem ser efectivos sem se aperceber que os contractos de trabalho sem termo são mapeados em empregos para a vida e isso hoje não existe. A flexibilidade é uma realidade hoje, independentemente de as leis laborais o espelharem ou não e é óbvio que ainda não o espelham. no dia em que o fizerem, veremos o fim dos falsos recibos verdes e de outras formas de contornar a infelxibilidade que hoje existe nas leis laborais. Parece que algumas pessoas querem um sistema em que têm apenas de provar o seu mérito nos primeiros 3 anos de contrato podendo depois ter o seu emprego assegurado independentemente do seu desempenho. Parece-me que isso não é muito diferente do que os mesmos criticam nas, ridículas e injustas, reformas vitalícias dadas a deputados por exercerem 2 mandatos.

homens da luta


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