É a morte de um dos “comediantes mais explosiva, exaustiva e prodigiosamente verbais que alguma vez viveu”.
Robin Williams, atravessava uma forte depressão, numa altura em que estava novamente a lutar contra a dependência de álcool e drogas e ter-se-á, aparentemente, suicidado, em casa, aos 63 anos.
Alguém que, como escreve A.O.Scott no New York Times, poderia competir com as explosões do fogo-de-artifício se assim o quisesse: o actor norte-americano Robin Williams foi encontrado morto em sua casa, em Tiburon, Califórnia, a norte de São Francisco, aos 63 anos, revelaram autoridades policiais do condado de Marin, Califórnia. O protagonista de Bom dia, Vietname (1987) morreu de asfixia.
A declaração oficial, segundo o New York Times, diz que o xerife de Marin County recebeu uma chamada de urgência às 11h55 da manhã, reportando que um homem fora encontrado “inconsciente e sem respirar dentro da sua residência”. Os serviços de emergência foram activados e o corpo foi identificado como sendo o de Williams, declarado morto às 12h02 da tarde. De acordo com o agente do actor, Williams estava a “combater uma grave depressão”. Foi visto com vida, pela última vez, no domingo, cerca das 22h, em casa. A autópsia deve acontecer hoje, segundo a polícia em declarações à AFP.
A mulher, Susan Schneider, confirmou o óbito. “Perdi o meu marido e o meu melhor amigo e o mundo perdeu um dos seus mais queridos artistas e maravilhosos seres humanos.” Pediu respeito pela privacidade da família neste momento de dor. “A nossa esperança é que ele seja recordado não pela sua morte, mas pelos muitos momentos de divertimento e riso que proporcionou a milhares de pessoas”, acrescentou. Robin Williams deixa três filhos de dois casamentos anteriores.
Nascido Robin McLaurin Williams, em Chicago: gorducho, criança solitária, a brincar sozinho com os brinquedos no quarto do subúrbio, um antecedente típico da futura energia, sede de atenção e ansiedade que marcariam os seus papéis no cinema e, nos seus inícios de actor, nos palcos da stand up comedy . Onde disparava para todos os assuntos “fracturantes”, da política, da sociedade, da cultura, chamuscando estrelas de Hollywood, presidentes, príncipes – “Chuck, Cam, que bom ver-vos”, gritou um dia de um palco londrino a Carlos de Inglaterra e Lady Camilla Bowles; apoiante de Barack Obama (“um Kennedy muito bronzeado”), quando George W. Bush saiu da Casa Branca, Williams anunciou a saída oficial da América “do centro de reabilitação.” (O que iria Bush fazer na sua nova vida? “Bom, não pode seguir uma carreira de discursos públicos. Isso ele não pode fazer… Mas pode fazer stand up comedy, porque tem oito anos de material incrível para usar”.) Mas chamuscando-se, também. O público e o político, mas também o pessoal em palco. Robin assumia assim a sua dependência de cocaína, nos anos 70 e 80. “Que droga maravilhosa. Qualquer coisa que nos torne paranóicos e impotentes, dêem-me mais disso.”
Ouvir vozes
A série televisiva Mork & Mindy, na qual assumiu a personagem do extra-terrestre Mork, foi estrelato instantâneo e passaporte para personagens principais em cinema, como Popeye de Robert Altman (1980) – um fracasso de bilheteira, mas um filme tão bizarro como só o mainstream americano da altura podia ser e que fica como um dos mais significativos de Williams – e The World According to Garp (1982), de George Roy Hill.
Foram primeiras impressões com uma espécie de estranheza que o actor iria tornar familiar, não ofensiva (o segredo do seu sucesso, assim tocou em toda uma geração de espectadores). Logo depois, essa guerrilha contra a convenção seria entronizada: Bom-Dia Vietname (1987), de Barry Levinson, como radialista na Saigão de 1960, e o Clube dos Poetas Mortos (1989), de Peter Weir, como professor, nos anos 50, que incita os alunos (Carpe diem) a desafiarem os seus tempos e a desafiarem-se. Foram duas nomeações para o Óscar. Que conquistaria, como secundário, com O Bom Rebelde (Good Will Hunting), de 1997, de Gus Van Sant. Era um terapeuta que ajudava a personagem problemática interpretada por Matt Damon, confirmando-se um arco importante na “narrativa” das personagens que interpretou: começando por desafiar a autoridade, tornava-se ele próprio figura de autoridade, um guru. Não sem uma certa dose de paternalismo. “Piedoso” mesmo, escreveu o crítico David Thomson, que “aconselhava” Williams, na terceira edição do seu A Biographical Dictionary of Film, a “tentar alguma escuridão.” E ele parece que ouviu ou apenas deu vazão aos seus demónios pessoais: Insónia de Christopher Nolan, One Hour Photo de Mark Romanek, ambos filmes de 2002. No total, sete dezenas de títulos, mais do que uma mão cheia de Globos de Ouro.